texto de Talita Cerqueira
A ideia de tribalismo foi detectada e assim denominada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli que enfatiza o conceito de que
não estamos sós, ou não há no tempo pós-moderno, o “individualismo” puro, mas sim a renovação deste. Por outro lado há uma quebra de confiabilidade nas grandes instituições sociais como os partidos políticos e os sindicatos. Mas, o indivíduo, ainda carecendo de outras formas de agrupamentos em solidariedade, provoca, segundo o sociólogo, a formação dos pequenos grupos de jovens, os quais chama de “tribos”
e examina os mecanismos que encontram para estabelecer novas formas de
comportamento prestes ao final do século XX. Em dada entrevista, Maffesoli apresenta a sua maneira original de olhar a vida em um dos trechos:
“Das empresas à moda, passando pelos jovens, vê-se bem a existência de algo que ultrapassa o individualismo. Passados vários anos da publicação de meu livro ‘O Tempo das Tribos’, descubro que a realidade encontrou a ficção ou, em resumo, a realidade social é essencialmente tribal.”
“Das empresas à moda, passando pelos jovens, vê-se bem a existência de algo que ultrapassa o individualismo. Passados vários anos da publicação de meu livro ‘O Tempo das Tribos’, descubro que a realidade encontrou a ficção ou, em resumo, a realidade social é essencialmente tribal.”
Óbvio, estamos cansados de ouvir que a era digital possibilitou grandes renovações e que isso apenas é o começo
diante de tanto avanço. A verdade é que a internet se tornou um espaço de
encontro de tribos e transformou-se em uma sociedade à parte, que não é mais considerada como virtual ou impalpável, mas real.
O mais interessante ao se observar
o indivíduo “jovem” na tribo é que este já não possui um papel único: acaba acarretando várias "personas", sem esquecer-se da necessidade de ter uma
identidade. Ele tende a precisão do agrupar, estar em contato com o outro,
compartilhar emoções em comum, valores e os mesmos gostos. Reforçando ainda mais o que Maffesoli aborda sobre o tribalismo, analisado por Weidlich (2012), "este desejo de pertencimento a dado grupo social se traduz pelo tribalismo, reiterando a vontade de “estar-junto” e de compartilhar emoções comuns". O autor remete o conceito a uma cultura do sentimento, que seria formada a partir de relações tácteis, por formas coletivas de empatia. Essa cultura não se inscreve mais em nenhuma finalidade, tendo como única preocupação, o presente vivido coletivamente e o aqui e agora".
Com a internet, o indivíduo troca com outros indivíduos - sejam de várias localidades geográficas, sociais, culturais e etc. - suas experiências. As experiências compartilhadas se tornam tão fortes que acabam formando um coletivo, uma unidade repleta de características distintas ao mesmo tempo semelhantes.
Com a internet, o indivíduo troca com outros indivíduos - sejam de várias localidades geográficas, sociais, culturais e etc. - suas experiências. As experiências compartilhadas se tornam tão fortes que acabam formando um coletivo, uma unidade repleta de características distintas ao mesmo tempo semelhantes.
CUAL-Coletivo Urgente de Audiovisual
CUAL
Não estando muito longe da ideia de tribalismo digital. Aqui na próprio estado baiano existe um grupo denominado de CUAL- Coletivo
Urgente de Audiovisual. São jovens, entre 25 e 28 anos, que fazem uso das tecnologias e da união de gostos por um propósito comum, fazer cinema experimental de baixo custo, diferente do cinema tradicional com amplos sets de filmagens e altas produções. Conforme Negroponte (1999), esses indivíduos deixaram de ser
apenas consumidores para atuarem como produtores de informação, percorrendo livremente
entre as múltiplas plataformas de mídias. O grupo em questão, além de encontros
presenciais em locais culturais como Sala Walter daSilveira e Cine Solar Boa Vista, que permitem a contemplação das obras produzidas
por eles, desenvolvem um outro projeto paralelo chamado Cine Avuadora. Trata-se de um cineclube voltado principalmente para exibição de filmes produzidos por cineastas em início de carreira e discussão destas realizações. Eles utilizam blogs,
fanpages, twiter, youtube, entre
outras mídias, para unir pessoas com as mesmas paixões, formando assim uma
coletividade e por que não, um fã clube. Isto também nos permite pensar no que Lévy fala a respeito da coordenação dos saberes que ocorrem no ciberespaço, o qual não é apenas composto por tecnologias e instrumentos de infraestrutura,
mas também é habitado pelos saberes e pelos indivíduos que os possuem. Abaixo um video sobre este grupo (Cual) de jovens cineastas formados em cinema pela UFBA.
Enfim, as mídias digitais permitem
o maior sustento do tribalismo. Este ser individual, ou indivíduos, não está totalmente
“só” no mundo. O fato de dividir ideias, sejam com infraestruturas digitais ou não,
impulsiona a cada momento o tribalismo digital.
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