texto de Vanessa Miranda
O campo audiovisual é muito vasto e diversificado, cada vez mais surgem novos formatos de produção e difusão de seus produtos. A partir do desenvolvimento tecnológico e do surgimento das mídias digitais, um novo formato de vídeo emergiu: o vídeo para internet.
"(...)apresenta algumas características específicas como: duração, modo de produção, meio e modo de circulação. É, contudo, uma categoria que não pode ser homogeneizada de maneira alguma e possui uma extensão de formas tão vastas quanto é vasto o ciberespaço, participando de uma ecologia social." (Jenkins, 2009)¹
Neste trecho citado acima fica claro que a própria "categoria" é muito vasta e não pode ser muito bem delimitada e, por isso, gera sua própria gama de possibilidades produtivas e sociais. Com a emergência dessa nova proposta e a possibilidade de se gravar/registrar os acontecimentos do cotidiano e/ou cenas imaginadas através das câmeras digitais, celulares, tablets e afins, a urgência dos usuários em "postar" seus vídeos na internet cresceu de forma desenfreada. Com isso chegou-se a pensar que tudo poderia fazer sucesso entre os internautas do mundo todo, mas uma série de fatores apontam que existem preceitos para um vídeo ganhar popularidade, como: contexto histórico, tom humorístico, tom de comunidade, originalidade, genialidade, curiosidade que desperta, entre outros. O sucesso pode possibilitar que o espectador se fidelize ao "canal" e/ou produtor ou pode ser passageiro.
No guarda-chuva desse formato, surgem as produtoras que se especializam em produzir este tipo de vídeos e criam estratégias de distribuição para este formato, mas também há aquelas que produzem (ou produziam) outros formatos e passaram a se dedicar a esta "linha de produção", culminando na criação de canais como o "Porta dos Fundos" que abordarei mais no decorrer da postagem.
Como dito anteriormente, a categoria "vídeo para internet" é muito vasta e seu produtor, como não poderia deixar de ser, também é muito variado e complexo. Não é possível separar completamente profissionais de amadores, apesar de existirem diferenças claras entre os dois.
"Sabe-se que, mesmo entre os usuários colaboradores, considerados amadores, há uma preocupação constante com a qualidade do material exposto, havendo um discurso de qualidade (Müller, 2009), que seria uma auto-regulação,dentro da própria comunidade, quanto aos critérios de produção de seus vídeos, desde a gravação, até a pós-produção(questões especialmente técnicas). A preocupação estética,assim, faz parte dos parâmetros estabelecidos dentro de grupos considerados amadores."(Angela Maria Meili, 2011)²
A divisão entre profissionais e amadores, mesmo que turva, pode ser vista a partir da lógica da indústria cinematográfica: as complexidades de fatores que envolvem a indústria criam um espaço concernente à tecnologia, instituições, mercado, propriedade intelectual, direitos autorais e especializações. Observando esta lógica é possível perceber as características que legitimam a obra profissional e o próprio produtor como profissional, como as condições econômicas, técnicas e sociais. A presença destes profissionais revela um estrutura técnica que viabilizam uma maior circulação e produção destes conteúdos, mostrando assim o caráter de negócio presente nas plataformas utilizadas pelos profissionais e usuários para divulgar/acessar estes vídeos, como o YouTube. Podemos encontrar canais no YouTube de grandes corporações, médias e pequenas empresas, os vídeos postados por elas costumam ser os mais acessados e demonstram que o usuário busca um determinado grau de qualidade e profissionalismo nos vídeos que assiste.
Os Pro-Am
Um novo tipo de amador (muito híbrido por sinal) surgiu em meio às grandes transformações trazidas pelas inovações tecnológicas: o Pro-Am. Os Pro-Am são, segundo Angela Maria Meili, "(...)amadores que trabalham sobre padrões profissionais, pessoas educadas, com conhecimentos especializados, que se organizam de forma distribucional, segundo modelos inovadores de baixo custo."³ Estes quase-profissionais, conectados em rede, têm um impacto muito grande na cultura e na economia, "produzem e promovem o capital cultural, pois investem tempo e dinheiro, comprando equipamentos, promovendo soluções técnicas, participando de eventos, viajando, criando grupos organizados, etc. Ser um Pro-Am, portanto, requer paixão, perseverança e riscos; (...)."4
YouTube e Porta dos Fundos
O YouTube foi criado em 2005 como uma ferramenta de broadcasting de acesso livre dos usuários ao conteúdo audiovisual inserido pelos próprios usuários. Já em 2006, foi adquirido pela Google por 1,65 bilhões de dólares, mostrando a capacidade de crescimento desta plataforma e a sua enorme popularidade. O YouTube sempre se promoveu como uma comunidade de cultura colaborativa, desta forma ela consegue se ambientar entre o mundo dos negócios e o social, a partir do momento em que insere propagandas pagas, conteúdos promocionais e estratégias de preservação de copyright.
Outra questão que "denuncia" a produção profissional do Porta dos Fundos é esta declaração dos fundadores também na introdução do livro:
1 JENKINS, Henry. Convergence Culture. Where Old and New Media Colide. New York: New York University Press, 2006. in: MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p. 53
2 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.53
3 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.56
4 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p. 57
5 BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube: Digital Media and Society Series. Cambridge: Polity Press, 2009. in: MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.55
6 e 7 Porta dos Fundos; Rio de Janeiro: Sextante, 2013, p. 8
Os Pro-Am
Um novo tipo de amador (muito híbrido por sinal) surgiu em meio às grandes transformações trazidas pelas inovações tecnológicas: o Pro-Am. Os Pro-Am são, segundo Angela Maria Meili, "(...)amadores que trabalham sobre padrões profissionais, pessoas educadas, com conhecimentos especializados, que se organizam de forma distribucional, segundo modelos inovadores de baixo custo."³ Estes quase-profissionais, conectados em rede, têm um impacto muito grande na cultura e na economia, "produzem e promovem o capital cultural, pois investem tempo e dinheiro, comprando equipamentos, promovendo soluções técnicas, participando de eventos, viajando, criando grupos organizados, etc. Ser um Pro-Am, portanto, requer paixão, perseverança e riscos; (...)."4
YouTube e Porta dos Fundos
O YouTube foi criado em 2005 como uma ferramenta de broadcasting de acesso livre dos usuários ao conteúdo audiovisual inserido pelos próprios usuários. Já em 2006, foi adquirido pela Google por 1,65 bilhões de dólares, mostrando a capacidade de crescimento desta plataforma e a sua enorme popularidade. O YouTube sempre se promoveu como uma comunidade de cultura colaborativa, desta forma ela consegue se ambientar entre o mundo dos negócios e o social, a partir do momento em que insere propagandas pagas, conteúdos promocionais e estratégias de preservação de copyright.
"Youtube é sintomático de uma mudança de ambiente de mídia, mas é aquele em que as práticas e identidades associadas à produção de cultura e consumo, empresa comercial e não-comercial , e profissionalismo e amadorismo interagem e convergem em novas formas." (Burgees & Green, 2009, p.90) 5É nesta convergência que nasce o Porta dos Fundos, "(...) um coletivo criativo criado por amigos e para amigos. Simples assim" 6. O Porta, apelido carinhoso dado pelos fãs, é um canal de humor do YouTube criado por Gregório Duviver, Fábio Porchat, Antônio Tabet, João Vicente de Castro e Ian SBF. Hoje, o Porta já atingiu mais de 1 milhão de inscritos no seu canal, além de ser considerado o grande fenômeno da internet nos últimos tempos. Como dito pelos próprios fundadores na introdução do livro de roteiros do coletivo, eles têm alma de amadores, mas são profissionais que "migraram" da TV para a Web, como forma de ganhar mais liberdade criativa e até mesmo financeira. Apesar de não ser o primeiro canal do gênero no YouTube, o Porta carrega um diferencial que é facilmente perceptível: atores conhecidos, roteiros desenvolvidos por profissionais, qualidade técnica, equipe de produção, linguagem jovem e humor ácido. Também podemos verificar que o canal se destaca dos demais por um motivo bem visível e interessante: dentro de sua produção está o Making Of que é feito de todos os seus vídeos e postado de forma conjunta com os mesmos. Isto revela a necessidade de se auto afirmar como profissional e agregar status às suas produções.
Outra questão que "denuncia" a produção profissional do Porta dos Fundos é esta declaração dos fundadores também na introdução do livro:
"O Porta surgiu no momento em que se começou a perceber que um produto para a internet não precisa ser necessariamente tosco. Ou involuntário. O povo da internet não é diferente do resto do povo: ele quer qualidade." 7Tradicionalmente o canal posta vídeos todas as Segundas, Quintas e Sábados às 11h, mas após mais de um ano de surgimento o Porta produziu a sua primeira Websérie, que é uma produção episódica seriada para a internet, chamada "Viral". A série aborda o tema da Aids por um olhar inovador, o de um jovem HIV Positivo, Beto, que descobre a doença e embarca numa jornada com um amigo, Rafa, para contar para suas ex-parceiras sexuais sua recém descoberta. Viral não perde as características das produções anteriores do canal, mas revela uma maturidade adquirida e uma maior exploração dos talentos dos integrantes do coletivo. A Websérie é divida em 04 episódios de 15 minutos cada que, levando em consideração que o internauta hoje funciona num ritmo quase instantâneo, é bastante longo e arriscado.
Recentemente o canal lançou mais uma websérie chamada Refém que ainda está em seu primeiro episódio. Também há pouco tempo, o coletivo assinou contrato com o canal de TV a Cabo Fox, possibilitando que seus vídeos sejam exibidos dentro de um programa próprio.
Bem, se eu fosse abordar todos os pontos interessantes desta grande revolução que é o YouTube e o Porta dos Fundos, levaria mais de 10 posts. Mas a partir deste é possível perceber que, apenas com o surgimento de uma plataforma nova, surge uma gama de outras coisas que acompanham a inovação. Com isso, os modos de fazer e as características de quem faz se tornam cada vez mais híbridas e com fronteiras pouco definidas.
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1 JENKINS, Henry. Convergence Culture. Where Old and New Media Colide. New York: New York University Press, 2006. in: MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p. 53
2 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.53
3 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.56
4 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p. 57
5 BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube: Digital Media and Society Series. Cambridge: Polity Press, 2009. in: MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.55
6 e 7 Porta dos Fundos; Rio de Janeiro: Sextante, 2013, p. 8
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