texto de Talita Cerqueira
Por volta 1439
Gutemberg inventa a impressão por tipos móveis, com a qual pode se iniciar a produção de informação em massa. Imaginemos o quão foi difícil para a geração de
Gutemberg entender o novo equipamento que poderia, dali em diante, proporcionar às pessoas o armazenamento de conhecimento em folhas,
memórias de maneira mais solta, rápida e reproduzida. Da mesma forma, hoje
estranhamos as novas mídias, que armazenam muito mais informações, são livres e
com larga velocidade que são, por sua vez, acessadas e multiplicadas.
O livro tem sua
característica, transportável, encadernado contendo numeras folhas impressas, que
incluem palavras ou desenhos. No e-book, sua principal vantagem
é a portabilidade, acessível ao leitor, com o qual pode interagir dos diversos
modos e, devido ao seu formato digital, é capaz de ser transmitido por meio da
internet. Em poucos minutos o livro digital comprado em milhas e milhas de
distância é adquirido sem problema algum pelo leitor. Outro grande atrativo do
livro digital é a leitura em mídia sonora, como o mp3, chamados audiobooks. No entanto, ainda existem aqueles que prefiram a
leitura tradicional, folhear cada página, permitir-se imaginar, diante de cada
frase, e sentir o cheiro do papel antes da leitura.
Este duelo entre os modelos diferentes de livros ainda causa discussões, pois se trata nada mais do que um comportamento do leitor
perante tais objetos. Como Michel Serres fala em seu livro “A Polegarzinha” sobre a cabeça da nova
geração que não está mais acima do corpo, na antiguidade também preocupavam-se com a cabeça, no sentido da memória diante da escrita. Vejamos a citação de um dos personagens
do filósofo Sócrates¹ a respeito do livro bem antes da era Gutemberg: “Tornará os homens esquecidos, pois deixarão de
cultivar a memória; confiando apenas nos livros escritos, só se lembrarão de um
assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos.”
O leitor tradicional se posiciona perante o livro,
contemplando-o, cuja interação está somente entre as linhas do olhar versus
página. No artigo de Aguiar ²,
sobre o computador (como máquina e dispositivo digital) e a construção do
sentido, aborda justamente a diferença entre os dois leitores pelos quais cita: “O
leitor com comportamento analógico pode ser avesso ao texto em ambiente digital
não só por causa da limitação de suas posturas corporais diante do computador,
mas também por causa de uma aversão, ou até intimidação, diante da máquina.” Ainda
mais à frente, o autor compara: “Para o leitor com comportamento digital, a
postura estática diante do computador não é uma adversária à sua leitura; ele é
capaz de permanecer horas diante do monitor sem demonstrar cansaço(...) Essa mudança de paradigma dá-se pelo fato de que a
máquina não é para esse sujeito um objeto intimidador. A máquina passa a ser um
objeto útil e, muitas vezes, indispensável para o sujeito. Ela (a
máquina/computador) passa a ser o ambiente ideal para a leitura.”
Imagem do site inter.net blog
Nesse sentindo, ainda ao discorrer sobre
comportamento humano perante as novas mídias, o jornal The New York Times em uma de suas matérias, tratou sobre a migração dos
livros infantis para as mídias digitais, primordialmente a literatura em ipads para crianças entre 3 a 5 anos de
idade, cujos modos diante do objeto tecnológico são diferenciados diante da
leitura clássica feita pelos próprios pais. Entende-se que a criança ao
manusear, mesmo primitivamente, atenta-se aos movimentos e animações que o app oferece. Elas interagem por muitas
vezes sem ajuda. A princípio, observado pelas editoras isto pode ser positivo,
visto que a criança desenvolve habilidades. Mas conforme psiquiatras e doutoras da
pediatria americana, exclui a possibilidade da interação entre pais e filhos,
do desenvolvimento da linguagem verbal pronunciada e demonstrativa, pois restringe a possibilidade de ampliação de vocabulário. O afeto fica em segundo
plano. O grande medo é que os ipads tornem-se
futuras babás eletrônicas.
Enfim, os desafios que trazem as novas mídias para
os seres humanos, permanecem em grau de apreciação, pois
tudo que é novo causa estranhamento. Se na época de Sócrates e Gutemberg expressavam-se
certas dúvidas, imagine nos tempos atuais, nos quais tudo se impõe diante de
nós. Contudo em relação aos leitores contemporâneos, existem aqueles que prefiram
um velho livro do que o livro digital. Os “Polegarzinhas”, a nova geração y tornando-se
novos leitores, caminham para o apego das novas tecnologias.
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¹ - Trecho extraído do artigo "Literatura e outras mídias: diálogos possíveis" de Scheila Mara Batista Pereira Lopes.(mestranda em Estudos Literários/UFJF). Disponível em links . Acessado dia 06 de novembro de 2014
²- Aguiar, Rafael Hofmeister de, "O computador e a construção de sentido ou o computador: afinal, o que é isso?". Eletrônica. 1-32 págs. Disponível em links. Acessado dia 07 de novembro de 2014
²- Aguiar, Rafael Hofmeister de, "O computador e a construção de sentido ou o computador: afinal, o que é isso?". Eletrônica. 1-32 págs. Disponível em links. Acessado dia 07 de novembro de 2014
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