SERENDIPIDADE* DAS BRABULETAS

texto de Vitória Régia Sampaio.

De repente estavam pulando carnaval na Avenida Sete, em pleno São João de 2012, ora saltitando freneticamente atrás de um mini-trio, ora distribuindo folhetos, com camisetas uniformizadas, acessórios de asas, borboletas espalhadas pelo corpo, tirando fotos com os fãs, defendendo a música inédita solicitada a um amigo ou repetindo a coreografia conhecida pelo público, ao ritmo da trilha sonora daquela bem sucedida novela das 7, cujos capítulos sequer haviam acompanhado. Achavam que já haviam pagado todos os “micos” possíveis no decorrer da campanha corpo-a-corpo pelas ruas de Salvador, mas desta vez se superaram.

A empreguete cheia de  charme e a equipe "Brabuletas"

E tudo começou quando duas integrantes desta equipe (Vitória e Talita) encararam o desafio de fazer e inscrever um vídeo para o Concurso do Fantástico cuja protagonista e candidata fosse uma trabalhadora doméstica. O intuito da competição era provocar uma interação entre modalidades de programas Globais somada à participação do público via internet. O prêmio permitiria à vencedora participar de um dos capítulos da novela Cheia de Charme. A eleita seria aclamada “A Empreguete Mais Cheia de Charme do Brasil”.

Marilene de Jesus, uma mulher negra, pobre e residente em Periperi, com seu carisma, venceu o concurso, se tornou amada e celebrada, viajou três vezes para o Rio de Janeiro e realizou o sonho de conhecer o ator Marcos Palmeira. Posteriormente, de uma senhora sensibilizada, ganhou uma bolsa de estudos para seu filho no melhor colégio particular do subúrbio ferroviário.

A equipe que realizou com competência o vídeo e a campanha passou a denominar-se “Brabuletas Produções Audiovisuais” e passou a fazer vídeos documentários para disputar festivais de cinema.

Devido à combinação de produtos televisivos + comoção pública, foi aprovada finalmente a nova Lei das Domésticas, que veio valorizar e beneficiar toda uma categoria de trabalhadores caseiros.

Tudo isso foi possível graças aos meios de comunicação (telefone,  televisão, rádio, jornais impressos, revistas) e à existência de novas tecnologias (smartphones, computadores, fotos digitais, gravação e reprodução sonora digital, internet, redes sociais, youtube)

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* Inventado em 1754 pelo inglês Horace Walpole, o termo serendipidade expressa um conceito velho como o mundo: a arte de encontrar o que não se está procurando.