sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A era das mídias móveis

Texto: Jéssica Alves


É de conhecimento geral que o uso das tecnologias móveis modificou as relações sociais. O celular que outrora se tratava, apenas de aparelho para a comunicação oral, hoje este artefato é utilizado para assistir vídeos, ouvir rádios e, principalmente, para trocar dados. A mídia móvel encurtou a relação de tempo e espaço. Hoje, os indivíduos podem trocar informações em países diferentes e seus respectivos dados serão enviadas em frações de segundos.


Em Geração Móvel a autora Adelina Moura conta que o acesso a conteúdos deixou de estar limitado ao computador pessoal e estendeu-se para as tecnologias móveis. Com isso, houve um novo paradigma educacional que ela denominou de mobile learning (aprendizagem móvel). 

Não é difícil perceber que as novas ferramentas tecnológicas colaboram com a forma de aprendizado. E, principalmente, nas relações do cotidiano. Ainda conforme Moura, as mídias móveis "nos permitem continuar a trabalhar, aprender e organizarmo-nos onde quer que estejamos".


Desafios do jornalismo

Antes para obter uma informação era necessário esperar até o dia seguinte para ler o jornal, esperar o anúncio ser veiculado na TV ou ouvir as notícias pelo rádio. Hoje, os usuários, simplesmente, podem obter informações sobre o que acontece no mundo a qualquer hora basta estarem conectados. Além disso, antes não era possível que o leitor, telespectador ou o ouvinte participassem efetivamente do jornal como hoje.

Atualmente, há uma 'ajuda' e participação efetivamente maior do leitor na produção de notícias.  Através da mídia móvel, muitas jornais como o Folha de S.Paulo, Estadão e o A Tarde usam aplicativos como o  whatsapp para que os leitores possam enviar fotos, vídeos ou denúncias.  


Conforme Angeles Treitero García Cônsolo em A linguagemaudiovisual em mídias portáteis e ubíquas qualquer cidadão pode colaborar com alguma reportagem. “Os dispositivos móveis em sua maioria possibilitam ao indivíduo estar on ou offline e em movimento o que muda toda uma forma de comportamento, como também não é difícil ver pela televisão ou pela internet uma reportagem que foi feita por um cidadão comum, pois eles estão equipados com câmaras conectadas que podem relatam fatos antes mesmo dos profissionais, tudo isso em mobilidade”.

Uma das discussões, na era da mídia móvel consiste na substituição ou o possível fim do jornal impresso devido a notícia online. O jornalista Alberto Dines no programa Observatório da Imprensa (exibido em 2012) classificou como 'drástica' esta possível mudança (confira o vídeo abaixo).





Realidade aumentada

As mídias móveis nos permitem uma integração de informações virtuais a visualizações do mundo real. Essa relação é chamada de realidade aumentada. Esta tecnologia de ponta permite que os usuários tenham uma visão estendida do mundo virtual para o físico.

Segundo em Lucia Santaella em A Ecologia Pluralista das Mídias Locativas não existe mais uma separação do real e o imaginário. “Os espaços intersticiais referem-se às bordas entre espaços físicos e digitais, compondo espaços conectados, nos quais se rompe a distinção tradicional entre espaços físicos, de um lado, e digitais, de outro”.  Ou seja, conforme Santaella ambos os espaços tornaram-se híbridos devido a conexão entre os usuários conectados via aparelhos móveis.

Se antes parecia impraticável aproximar o mundo virtual e o real, através de dispositivos como  smartphones ou tablets, atualmente é possível. No Centro Comercial, na Hungria diversas pessoas compartilharam experiências com esta tecnologia. (Confira no vídeo abaixo).




Em detrimento de todos os aspectos mencionados percebe-se que as mídias móveis são recursos extremamente interativos e colaborativos nesta geração. Dessa forma, os usuários podem adquirir mais informações e trocarem experiências através de dispositivos como smartphones, tablets ou notebooks. 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Eles nos vêem a todo tempo

Texto: Genildes Azevedo


Uma novidade chegou ao Brasil: Os drones já são realidade. A ideia está sendo vendida a todo vapor, como algo positivo e inovador que trará inúmeros benefícios. O que não vem sendo muito explorado é a vigilância não autorizada que isso representa, pois algumas pessoas utilizam com o objetivo de espionagem, e os cidadãos que não querem ter suas vidas invadidas por essa "bisbilhotagem" acabam tendo sua intimidade violada.

Em agosto desse ano, por exemplo o Programa Pânico na Band utilizou um drone para avisar a participante Sheila Carvalho do programa "A Fazenda 6" de uma suposta traição de seu esposo. A Record interceptou o drone antes de entregar a mensagem à participante.

O equipamento voador comandado remotamente ainda não é tão facilmente encontrado no Brasil. As peças que existem no país têm preços um tanto quanto altos. Mas mesmo assim, para quem precisa de uma opção profissional – para filmagem aérea, ou entrega de mercadorias - por exemplo – eles são uma alternativa que pode ser levada em consideração.

Ainda distante da aquisição da maioria das pessoas pelo seu valor elevado, custam em torno de R$250,00 aos mais caros a R$ 4.699,90 no site de compras da internet como o Mercado LivreO seu uso é bem variado, desde pequenas e grandes empresas à emissoras de programas de TV. 



Existem várias empresas interessadas em utilizarem essas máquinas para fazerem entregas e agilizar seus serviços prestados. A Amazon esteve em fase de testes no interior de São Paulo. A responsável por isso é a padaria Pão to Go, que começou a fazer entregas próximas à loja em São Carlos (232 km de São Paulo). "O dono da empresa, Tom Ricetti, se mostra confiante quanto ao uso dos drones, que está em fase de testes até maio. “Acredito firmemente que o nosso projeto entrará em funcionamento, até por uma questão de custo: é muito mais barato entregar com drone do que com motoboy”, compara Ricetti. “Vou mais longe: acredito que em um futuro próximo as pessoas terão o próprio drone para buscar pão, remédio, pizza ou qualquer outra coisa”, imagina. 



 Perante a lei temos o seguinte direito:

"No Brasil, o direito à imagem é contemplado de maneira expressa no novo Código Civil, em seu capítulo II (Dos direitos da personalidade), artigo 20: salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais".
Drone/Reprodução

Portanto, o direito à imagem é resguardado de forma clara, feitas as ressalvas ao uso informativo e que não atinjam a honra ou a respeitabilidade do indivíduo. E é isso que perdem os cidadão ao serem fiscalizados por robôs voadores, sem saber qual o objetivo ou para qual fim isso será utilizado.

Será que há o que temer?

Essa invenção que foge ao nosso controle, sem que se saiba se é ou não benéfica à humanidade, tem sido um temor persistente com boa razão industrial. 

As armas nucleares são um fácil exemplo; considerar que os carros têm feito para as nossas paisagens ao longo do século passado e que é justo perguntar quem está no banco do motorista, eles ou nós. A maioria das pessoas diria que carros têm, em geral, beneficiado a humanidade. Um século a partir de agora, pode haver o mesmo acordo sobre drones, se tomarmos passos desde o início para controlar os riscos.

A administração Obama prometeu diminuir restrições da Administração Federal de Aviação, até 2015, para tornar a utilização de drones mais fácil por parte das 18 mil agências de fiscalização e punição para fins de vigilância, entre outros usos.

De acordo com um relatório no New York Times de 16 de fevereiro, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos também ofereceu apoio financeiro para ajudar departamentos de polícia a adquirir drones, que estão “se tornando os queridinhos das autoridades da lei de todo o país”.


Caso Snowden: EUA o espião 

Os atos de espionagens realizados pelos Estados Unidos sobre o Brasil e outros países, trás à tona, os abusos de privacidade que estamos sujeitos nas redes de comunicação. Constantemente, evidenciamos casos de violação de dados pessoais ou materiais sigilosos de sistemas governamentais que são vazados na internet. Esse assunto nos leva a um questionamento: afinal, como ter a privacidade resguardada na web?

No ano passado o ex-técnico da CIA, Edward Snowden, de 29 anos, tornou público os documentos informativos sobre programas de vigilância que o governo dos EUA utiliza para espionar a população internacional e estadunidense. Segundo o Portal G1, Snowden, em entrevista ao The Guardian  contou que, mesmo correndo riscos de atentados das autoridades norte americanas, precisaria demonstrar ao mundo sobre o sistema de vigilância dos EUA. “"Eu estou disposto a me sacrificar porque eu não posso, em sã consciência, deixar que o governo dos Estados Unidos destrua a privacidade, a liberdade de Internet e os direitos básicos de pessoas em todo o mundo, tudo em nome de um maciço serviço secreto de vigilância que eles estão desenvolvendo". 

Os documentos revelados por Snowden  revelaram que grandes empresas como HUAWEI e a Petrobrás foram vítimas da espionagem Norte Americana. Além disso, conversações da Presidenta Dilma Rouseff e também da alemã Angela Merkel foram monitoradas. Em entrevista à repórter Sônia Bridi para Globo News e o Fantástico, o ex-funcionário da CIA contou detalhes sobre os programas de vigilância e como está sua vida atualmente. Veja o vídeo abaixo.



Diante deste cenário de espionagem percebe-se que  todos os indivíduos estão sendo  afetados.  Já não é mais novidade dizer que a privacidade no mundo físico e virtual não é respeitada. Espera-se, que essa realidade mude, enquanto isso, você vai sendo filmado. 

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DRONES – origens e usos

texto de acréscimo – Vitória Régia

Segundo o site Wikipédia, “DRONE é um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) ou Veículo Aéreo Remotamente Pilotado (VARP), também chamado UAV (do inglês Unmanned Aerial Vehicle) e mais conhecido como drone (zangão, em inglês), é todo e qualquer tipo de aeronave que não necessita de pilotos embarcados para ser guiada. Esses aviões são controlados à distância por meios eletrônicos e computacionais, sob a supervisão e governo humanos, ou sem a sua intervenção, por meio de Controladores Lógicos Programáveis(CLP)”.

Estas máquinas voadoras de última geração foram idealizados para fins militares, inspirados nas bombas voadoras alemãs, do tipo V-1, e nos inofensivos aeromodelos e para serem usadas em missões muito “maçantes ou perigosas" para serem executadas por seres humanos.


Origem no século XIX


Não se trata de uma ideia nova. O primeiro uso de uma aeronave não tripulada carregada com armas letais data de 1849. Nessa época, os austríacos, que controlavam grande parte da Itália, lançaram 200 balões contra Veneza. Cada um levava 15 quilos de explosivos, os quais eram acionados após meia hora, por meio de cronômetros rudimentares.  A tecnologia foi aprimorada no século passado e virou tendência.

Uso militar e civil

Nas últimas décadas, os drones foram usados sobretudo no Kosovo, no Tchad, e também nos ataques americanos ao Paquistão e contra a pirataria marítima. Os militares britânicos a partir de julho de 2013 lançaram ao Afeganistão 299 drones em suas ofensivas.


Além do uso militar, os drones estão sendo utilizados por civis como por fotógrafos e cinegrafistas porque captam melhores ângulos mantendo a câmera estável por mais tempo, além de também serem usados por emissoras de TVs, diminuindo custos em filmagens aéreas. A tecnologia pode ser utilizada para resgates em locais de difíceis acessos, áreas de desastres pois tais dispositivos transmitem imagens/vídeos em tempo real. Outro possível forma de utilizar drones é na agricultura para identificar rapidamente pragas, falhas no plantio, como na imagem abaixo demonstrando seu uso por pesquisadores no estado do Mato Grosso, etc.

Brasil

O primeiro VANT de que se tem registro no Brasil foi o BQM1BR, fabricado pela extinta CBT (Companhia Brasileira de Tratores), de propulsão a jato, voando em 1983. Outro VANT de que se tem conhecimento é o Gralha Azul, produzido pela Embravant. A aeronave possui mais de 4 metros de envergadura, com autonomia para até 3 horas de vôo. 
Em 1996, o CenPRA (Centro de Pesquisas Renato Archer) iniciou o Projeto Aurora, com o objetivo de desenvolver VANT's para serem usados em diversas áreas: segurança pública, monitoramento ambiental e de trânsito, levantamentos agrícolas, telecomunicações, etc. Em meados de 2012, a polícia federal brasileira possuía 15 drones vigiando a fronteira do país.

Drones pelo mundo

Peru - “Nos céus para vigiar a história”, artigo do jornal The New York Times de 25/08/14, os repórteres William Neuman e Ralph Blumenthal, demonstram que os drones vêm sendo usados para fotografar, mapear e proteger ruínas consideradas tesouros de mais de mil anos ameaçadas por saqueadores, posseiros e grileiros. A tecnologia destes helicópteros controlados à distância tem permitido uma economia de tempo aumentando também a precisão das sondagens para os pesquisadores e arqueólogos, formando imagens tridimensionais que antes era demasiado trabalhoso porque necessitavam juntas inúmeras imagens superpostas. Muitos peruanos ficaram chocados recentemente quando operários destruíram ilegamente, com máquinas pesadas, uma pirâmide de 4.000 anos. “É uma luta contra o tempo”, revela Luis Jaime Castillo Butters, vice-ministro do Patrimônio Cultural peruano. “Quanto mais rápido produzirmos os mapas, mais partes do sítio vamos poder salvar”, explicou.


Drone ajudou a criar uma imagem em 3D do Inka Wasi, um palácio inca

New York – Mais um artigo da mesma edição do The New York Times fala sobre o uso de drones em cerimônia de casamentos naquela cidade. Apesar da eficiência das filmagens, a repórter Marianne Rohrlich observa no entanto, alguns inconvenientes: o aparelho é barulhento e os convidados ficam a olhar para cima, esquecendo-se dos noivos, quebrando a santidade do momento. Houve até o caso de um noivo ter sido atingido na testa pelo equipamento.


Cambridge, Massachusetts – vejam o incrível vídeo em que um falcão estranha, ataca e abate um drone no ar.




sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Ativismo digital: Chegou a hora de mobilizar

Texto: Jéssica Alves

Muitas pessoas utilizam a internet para compartilhar experiências, discutir temas políticos e sociais e, também, para disseminar ideias em torno de um objetivo em comum. Os meios eletrônicos de comunicação tem sido um intermédio para que estes indivíduos organizem protestos e componham o cenário do ciberativismo.

Entende-se por ativismo digital ou ciberativismo segundo Irley David Fabricio da Silva e Cláudio Cardoso de Paiva no artigo Ciberativismo e democracia nas redes sociais, um espaço de reivindicações e direitos, como: "A utilização da internet (e outras hipermídias) por movimentos politicamente engajados nas lutas contra injustiça e exclusão que ocorrem também na própria rede".

O ciberativismo teve o seu marco inicial, em 1994, quando ocorreu o movimento Zapatista no México. O grupo era formado por camponeses e indígenas mexicanos que defendiam mais democracia no país. Esses militantes foram os primeiros a utilizarem a internet como ferramenta de mobilização. O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) durante o movimento, liberou presos da região e protestaram contra o poder do Estado.

Lívia Moreira de Alcântara, em Ciberativismo: mapeando discussões, conta que o exercito Zapatista difundiu uma espécie de corrente de rebeldia eletrônica"Algumas ações como a ocupação de espaços públicos começaram a ser transposta para o ambiente digital, configurando um novo tipo de desobediência civil, a eletrônica".

Conforme Rebeca Freitas Cavalcante em ciberativismo: como as novas formas de comunicação estão a contribuir para a democratização da comunicação,  o ativismo digital se fortaleceu com o fim do movimento Zapatista e abriu portas para que ONGs como Greenpeace, PeaceNet e Anistia Internacional começassem a usar os meios para chamar a atenção, também, para suas causas.


  Brasil 2013: Ano de protestos

O protesto no Brasil em 2013 foi um exemplo de como o ciberativismo tem crescido no país. A manifestação ocorreu, inicialmente, por conta do aumento na tarifa de ônibus em São Paulo, mas, logo espalhou-se por outros estados do Brasil. Várias pessoas reivindicavam melhorias na educação, transporte público e, principalmente, lutavam pelo fim da corrupção.

O movimento teve a sua origem inicialmente na internet e mobilizaram as pessoas a irem protestar na ruas. Alguns brasileiros criaram grupos  nas redes sociais para programarem manifestações e, assim, disseminar ideias que difundissem uma mudança política. A reivindicação ocorrida no Brasil em 2013, também, motivaram brasileiros que vivem no exterior para protestarem. Isso chamou a atenção de grandes mídias internacionais como o jornal  New York Times.


Foto: Protesto no Brasil 2013/ Reprodução

 O ciberativismo está sendo ampliando no mundo. A prova disso consiste em vários outros protestos feitos na internet como, por exemplo, na China. Os  estudantes de Hong Kong reivindicavam e expressaram sua opinião em pró da democracia no país. Alguns dos alunos que postaram na internet mensagens de apoio aos manifestantes foram presos. 

Audiovisual: um pivô para o ciberativismo

Hoje a internet é uma chave para compartilhar campanhas e reunirem pessoas para promoverem mudanças na realidade social dos países. Outros meios de comunicação como o rádio ou o jornal impresso limitavam a grande difusão de opiniões comparada a web.




Vários internautas participam de fóruns, criam vídeos e os disponibilizam no youtube para trocarem de informações, expressar e compartilhar opiniões. Eles são identificados como anonymous e são alguns militantes com conhecimentos avançados de programação. Contudo, segundo o Jornalista Renato Rovai, no Portal Forum, algumas pessoas que fazem parte do grupo anonymos são cidadãos comuns na espera por melhorias públicas. 

Em entrevista ao portal Forum, uma militante com pseudônimo Farfalla relatou: “Eu, por exemplo, sou escritora, redatora e estou na faixa dos 30 anos. Normalmente não dizemos nossa idade, mas estou lhe revelando para tirar o mito de que somos adolescentes. Isso não é verdade. Para você ter uma ideia, não sei nada de informática, sou uma leiga”, contou.


Em detrimento dos fatos mencionados, percebe-se que o ciberespaço é um extenso recurso para que todos possam protestar ou compartilhar princípios que consideram convenientes. Portanto, o ativismo digital é um grande marco para uma possível transformação da realidade social.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Entre Tubos e Portas


texto de Vanessa Miranda

O campo audiovisual é muito vasto e diversificado, cada vez mais surgem novos formatos de produção e difusão de seus produtos. A partir do desenvolvimento tecnológico e do surgimento das mídias digitais, um novo formato de vídeo emergiu: o vídeo para internet.
"(...)apresenta algumas características específicas como: duração, modo de produção, meio e modo de circulação. É, contudo, uma categoria que não pode ser homogeneizada de maneira alguma e possui uma extensão de formas tão vastas quanto é vasto o ciberespaço, participando de uma ecologia social." (Jenkins, 2009)¹
Neste trecho citado acima fica claro que a própria "categoria" é muito vasta e não pode ser muito bem delimitada e, por isso, gera sua própria gama de possibilidades produtivas e sociais. Com a emergência dessa nova proposta e a possibilidade de se gravar/registrar os acontecimentos do cotidiano e/ou cenas imaginadas através das câmeras digitais, celulares, tablets e afins, a urgência dos usuários em "postar" seus vídeos na internet cresceu de forma desenfreada. Com isso chegou-se a pensar que tudo poderia fazer sucesso entre os internautas do mundo todo, mas uma série de fatores apontam que existem preceitos para um vídeo ganhar popularidade, como: contexto histórico, tom humorístico, tom de comunidade, originalidade, genialidade, curiosidade que desperta, entre outros. O sucesso pode possibilitar que o espectador se fidelize ao "canal" e/ou produtor ou pode ser passageiro.
No guarda-chuva desse formato, surgem as produtoras que se especializam em produzir este tipo de vídeos e criam estratégias de distribuição para este formato, mas também há aquelas que produzem (ou produziam) outros formatos e passaram a se dedicar a esta "linha de produção", culminando na criação de canais como o "Porta dos Fundos" que abordarei mais no decorrer da postagem.
Como dito anteriormente, a categoria "vídeo para internet" é muito vasta e seu produtor, como não poderia deixar de ser, também é muito variado e complexo. Não é possível separar completamente profissionais de amadores, apesar de existirem diferenças claras entre os dois. 
"Sabe-se que, mesmo entre os usuários colaboradores, considerados amadores, há uma preocupação constante com a qualidade do material exposto, havendo um discurso de qualidade (Müller, 2009), que seria uma auto-regulação,dentro da própria comunidade, quanto aos critérios de produção de seus vídeos, desde a gravação, até a pós-produção(questões especialmente técnicas). A preocupação estética,assim, faz parte dos parâmetros estabelecidos dentro de grupos considerados amadores."(Angela Maria Meili, 2011)²
A divisão entre profissionais e amadores, mesmo que turva, pode ser vista a partir da lógica da indústria cinematográfica: as complexidades de fatores que envolvem a indústria criam um espaço concernente à tecnologia, instituições, mercado, propriedade intelectual, direitos autorais e especializações. Observando esta lógica é possível perceber as características que legitimam a obra profissional e o próprio produtor como profissional, como as condições econômicas, técnicas e sociais. A presença destes profissionais revela um estrutura técnica que viabilizam uma maior circulação e produção destes conteúdos, mostrando assim o caráter de negócio presente nas plataformas utilizadas pelos profissionais e usuários para divulgar/acessar estes vídeos, como o YouTube. Podemos encontrar canais no YouTube de grandes corporações, médias e pequenas empresas, os vídeos postados por elas costumam ser os mais acessados e demonstram que o usuário busca um determinado grau de qualidade e profissionalismo nos vídeos que assiste.

Os Pro-Am

Um novo tipo de amador (muito híbrido por sinal) surgiu em meio às grandes transformações trazidas pelas inovações tecnológicas: o Pro-Am. Os Pro-Am são, segundo Angela Maria Meili, "(...)amadores que trabalham sobre padrões profissionais, pessoas educadas, com conhecimentos especializados, que se organizam de forma distribucional, segundo modelos inovadores de baixo custo."³ Estes quase-profissionais, conectados em rede, têm um impacto muito grande na cultura e na economia, "produzem e promovem o capital cultural, pois investem tempo e dinheiro, comprando equipamentos, promovendo soluções técnicas, participando de eventos, viajando, criando grupos organizados, etc. Ser um Pro-Am, portanto, requer paixão, perseverança e riscos; (...)."4

YouTube e Porta dos Fundos

O YouTube foi criado em 2005 como uma ferramenta de broadcasting de acesso livre dos usuários ao conteúdo audiovisual inserido pelos próprios usuários. Já em 2006, foi adquirido pela Google por 1,65 bilhões de dólares, mostrando a capacidade de crescimento desta plataforma e a sua enorme popularidade. O YouTube sempre se promoveu como uma comunidade de cultura colaborativa, desta forma ela consegue se ambientar entre o mundo dos negócios e o social, a partir do momento em que insere propagandas pagas, conteúdos promocionais e estratégias de preservação de copyright.
"Youtube é sintomático de uma mudança de ambiente de mídia, mas é aquele em que as práticas e identidades associadas à produção de cultura e consumo, empresa comercial e não-comercial , e profissionalismo e amadorismo interagem e convergem em novas formas." (Burgees & Green, 2009, p.90) 5
É nesta convergência que nasce o Porta dos Fundos, "(...) um coletivo criativo criado por amigos e para amigos. Simples assim" 6. O Porta, apelido carinhoso dado pelos fãs, é um canal de humor do YouTube criado por Gregório Duviver, Fábio Porchat, Antônio Tabet, João Vicente de Castro e Ian SBF. Hoje, o Porta já atingiu mais de 1 milhão de inscritos no seu canal, além de ser considerado o grande fenômeno da internet nos últimos tempos. Como dito pelos próprios fundadores na introdução do livro de roteiros do coletivo, eles têm alma de amadores, mas são profissionais que "migraram" da TV para a Web, como forma de ganhar mais liberdade criativa e até mesmo financeira. Apesar de não ser o primeiro canal do gênero no YouTube, o Porta carrega um diferencial que é facilmente perceptível: atores conhecidos, roteiros desenvolvidos por profissionais, qualidade técnica, equipe de produção, linguagem jovem e humor ácido. Também podemos verificar que o canal se destaca dos demais por um motivo bem visível e interessante: dentro de sua produção está o Making Of que é feito de todos os seus vídeos e postado de forma conjunta com os mesmos. Isto revela a necessidade de se auto afirmar como profissional e agregar status às suas produções.


Outra questão que "denuncia" a produção profissional do Porta dos Fundos é esta declaração dos fundadores também na introdução do livro:
"O Porta surgiu no momento em que se começou a perceber que um produto para a internet não precisa ser necessariamente tosco. Ou involuntário. O povo da internet não é diferente do resto do povo: ele quer qualidade." 7
 Tradicionalmente o canal posta vídeos todas as Segundas, Quintas e Sábados às 11h, mas após mais de um ano de surgimento o Porta produziu a sua primeira Websérie, que é uma produção episódica seriada para a internet, chamada "Viral". A série aborda o tema da Aids por um olhar inovador, o de um jovem HIV Positivo, Beto, que descobre a doença e embarca numa jornada com um amigo, Rafa, para contar para suas ex-parceiras sexuais sua recém descoberta. Viral não perde as características das produções anteriores do canal, mas revela uma maturidade adquirida e uma maior exploração dos talentos dos integrantes do coletivo. A Websérie é divida em 04 episódios de 15 minutos cada que, levando em consideração que o internauta hoje funciona num ritmo quase instantâneo, é bastante longo e arriscado.


Recentemente o canal lançou mais uma websérie chamada Refém que ainda está em seu primeiro episódio. Também há pouco tempo, o coletivo assinou contrato com o canal de TV a Cabo Fox, possibilitando que seus vídeos sejam exibidos dentro de um programa próprio.

Bem, se eu fosse abordar todos os pontos interessantes desta grande revolução que é o YouTube e o Porta dos Fundos, levaria mais de 10 posts. Mas a partir deste é possível perceber que, apenas com o surgimento de uma plataforma nova, surge uma gama de outras coisas que acompanham a inovação. Com isso, os modos de fazer e as características de quem faz se tornam cada vez mais híbridas e com fronteiras pouco definidas.

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1 JENKINS, Henry. Convergence Culture. Where Old and New Media Colide. New York: New York University Press, 2006. in: MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p. 53
2 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.53
3 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.56
4 MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p. 57
5 BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube: Digital Media and Society Series. Cambridge: Polity Press, 2009. in: MEILI, Angela Maria. Revista Sessões do Imaginário. Ano XVI, Nº 25, 2011, p.55
6 e 7 Porta dos Fundos; Rio de Janeiro: Sextante, 2013, p. 8